Destino Favorito: Parque Nacional da Lagoa do Peixe, set/12. Por Gilberto Sander Müller.
Por que vale a pena: a Lagoa do Peixe ainda é uma área relativamente intacta, e que recebe todos os anos grandes bandos de aves migratórias, tanto do hemisfério norte (Canadá), como do sul (Patagônia e Terra do Fogo). A característica de campo aberto, com vegetação rasteira, favorece a observação e condições para fotografia, dada a alta intensidade de luz existente. A administração do Parque é do Ibama, mas não existem controles de entrada ou saída.
- Texto e fotos: Gilberto Sander Müller
- Câmera: Canon SX30
- Observador de aves gaúcho, morador de Porto Alegre, RS, participo do COA – Porto Alegre.
- Minha formação é na área de engenharia, e a fotografia e observação de aves é um passatempo. No RS temos diversos parques de preservação, com biomas e ecossistemas diferenciados entre si. A minha preferência é pelo Parque Nacional da Lagoa do Peixe, pois por ser em área aberta, só com vegetação rasteira, permite melhor visualização das aves. Quero ajudar a divulgar e incentivar a observação de aves, dentro da educação ambiental de nossos cidadãos.
Destaques: as aves limícolas e migratórias, que passam por aqui em sua jornada incansável, se alimentam nas margens dos rios e do Oceano Atlântico, são os atores preferenciais neste bioma. Jaçanãs, narcejas, pernilongos, maçaricos, trinta-réis, piru-pirus, gaivotas, cisnes, flamingos, caminheiros e tantos outros. Algumas famílias de aves, como a Sternidae dos trinta-réis, tem diversas espécies, que à primeira vista confundem os observadores, pois as diferenças entre elas são bastante sutis. Também os maçaricos, que nesta região possuem diversos representantes sempre presentes, com diferentes espécies bastante semelhantes.
Nível de dificuldade : FÁCIL. Os bandos de aves migratórias, que se deslocam principalmente pela beira-mar, são de fácil e gratificante observação, pois suas revoadas, com os mais diversos matizes, trazem um espetáculo de rara beleza. O litoral do Rio Grande do Sul, com poucas interrupções na costa à beira mar, permite ao observador viajar por centenas de quilômetros na areia, sem interrupções. A cada trecho percorrido, mudam os protagonistas do cenário, trazendo novas imagens. A interação dentro dos bandos de aves mistas, é muito interessante, pois as mais diversas espécies se posicionam de uma forma organizada, cada espécie em um lugar definido. Não tem como não ver as avess, eles se expõe durante todo o ano, variando sempre as espécies mais abundantes, em função da sazonalidade das migrações.
É um local de fácil obtenção de resultados, até pela farta iluminação.
Infraestrutura do local: RAZOÁVEL. A infraestrutura é razoável, as estradas dependem do tempo e da época do ano. As opções de restaurantes são poucas, e sem muita criatividade. A hotelaria tem alguns estabelecimentos razoáveis, em Tavares e também em Mostardas.
Saindo de Porto Alegre, o Parque Nacional da Lagoa do Peixe inicia em Mostardas, onde fica o escritório do Ibama. Seguindo em frente, a principal área do parque fica no município de Tavares.
O acesso se faz pela estrada RSC-101 (antiga estrada do inferno), que como o próprio apelido já diz, é uma estrada de condições nem sempre adequadas. Como foi construída em cima de áreas alagadas e de areia, sua resistência ao tráfego de caminhões com as safras da área é testada e destruída, ano após ano. São realizados remendos na estrada, mas sempre tem grandes buracos e por vezes, trechos inteiros sem asfalto.
Eu prefiro seguir até o início do município de Mostardas pela RSC-101, e dali seguir pelo litoral, onde já podem ser observados os mais diversos tipos de aves e outros animais.
Entre a RSC-101 e o litoral, existem algumas passagens, no balneário de São Simão, no Farol da Solidão, no Balneário Mostardense, e na trilha do Talhamar. Todas elas são de passagem preferencialmente por veículos 4×4. Algumas não permitem a passagem durante certas épocas do ano como o Talhamar no inverno.
Do município de Mostardas, se chega no mar através do acesso ao Balneário Mostardense, normalmente com muita areia e alagados. Neste trecho se passa ao lado de um banhado de palha, com suas aves características.
A barra da lagoa do peixe é móvel, e fecha naturalmente no fim do verão ( fevereiro ou março). Fica fechada (sem ligação com o mar) até o mês de agosto ou setembro, quando é aberta por máquinas. Do final do verão, até a sua nova abertura, o nível da lagoa vai subindo, alagando uma maior área e inclusive a trilha do Talhamar.
Segurança: o principal risco é de atolamento de veículos, e para enfrentá-los é bom andar em comboio, ou com material próprio para desatolamento. Os moradores são muito solícitos, e pedindo auxílio, sempre se consegue ajuda. O risco de violência urbana é inexistente.
Oportunidades fotográficas: MUITO BOAS. Considero a Lagoa do Peixe como um paraíso para o registro fotográfico, porque tem excelente iluminação, as aves na sua maioria são grandes, não muito ariscas e como a geografia é plana, há boa visibilidade. Diferentemente de uma observação na mata, onde a luz muitas vezes é precária, as aves são pequenas, e os galhos e folhas atrapalham a visão do pássaro, na Lagoa do Peixe as condições são muito mais favoráveis.
Onde fotografar
- Beira mar: Todo o litoral paralelo à Lagoa do Peixe é favorável para observação de aves. É uma área quase desabitada, onde existem uns poucos pescadores eremitas, que sobrevivem da pesca artesanal. Os cômoros de areia abrigam também diversas espécies menores. As áreas de banhados, que podem ser alcançadas em vários locais, também guardam outras espécies.
- Trilhas : A trilha do Talhamar, permite atravessar diversos setores do parque, com vários bandos de aves dispersas. Também pode ser usado uma pequena embarcação, para atingir locais mais inacessíveis na lagoa.
- Interna: Mais para o Oeste, a poucos quilômetros de distância, passa a Lagoa dos Patos, que vai desembocar em Rio Grande, no sul do estado. Na sua costa, também poderão ser observados algumas espécies de pássaros.
Como chegar: saindo de Porto Alegre de carro, são aproximadamento 230km de distância, em estrada asfaltada, na região da lagoa de qualidade frequentemente duvidosa. É preciso no entanto, entrar em trilhas de areia, para chegar aos melhores locais de observação. Existe linha de ônibus saindo de Porto Alegre até Mostardas ou Tavares também, mas na Lagoa terá que ser contratado um serviço de transporte local. Um veículo 4×4 é o ideal para locomoção nos pontos da lagoa.
Guia: o melhor guia na região é o João Batista, do Hotel Parque da Lagoa, em Tavares, que tem uma Land Rover, e conhece todos os locais de observação da Lagoa do Peixe até o Taim, no extremo sul do Brasil. O Hotel é pequeno, e por vezes, fica lotado, então é bom reservar com alguma antecedência.
Quando ir: Março-abril. Todas as épocas do ano têm suas características e diversidade próprias. Em abril e maio, os migrantes do Norte estão voltando para se reproduzir. Em seguida, passam os que fogem do frio no Sul. Em outubro os migrantes do Norte já estão voltando. No inverno faz bastante frio e chove bastante. Normalmente, nos últimos meses do ano o vento costuma ser bem forte. O período de março e abril tem pouco vento, e clima ainda razoável, talvez sejam os meses mais interessantes para uma primeira visita. A Lagoa está ainda bem baixa, o que favorece a concentração dos bandos.
Lista de aves da região em setembro de 2012, link para as páginas da espécie no Wikiaves